quinta-feira, 29 de março de 2012

Quaresma - Como Viver Bem Esse Tempo Forte De Meditação, Oração, Jejum, Esmola?

Neste tempo especial de graças que é a Quaresma devemos aproveitar ao máximo para fazermos uma renovação espiritual em nossa vida. O Apóstolo São Paulo insistia: "Em nome de Cristo vos rogamos: reconciliai-vos com Deus!" (2 Cor 5, 20); "exortamo-vos a que não recebais a graça de Deus em vão. Pois ele diz: Eu te ouvi no tempo favorável e te ajudei no dia da salvação (Is 49,8). Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação." (2 Cor 6, 1-2).

Cristo jejuou e rezou durante quarenta dias (um longo tempo) antes de enfrentar as tentações do demônio no deserto e nos ensinou a vencê-lo pela oração e pelo jejum. Da mesma forma a Igreja quer ensinar-nos como vencer as tentações de hoje. Daí surgiu a Quaresma.

Na Quarta-Feira de Cinzas, quando ela começa, os sacerdotes colocam um pouquinho de cinzas sobre a cabeça dos fiéis na Missa. O sentido deste gesto é de lembrar que um dia a vida termina neste mundo, "voltamos ao pó" que as cinzas lembram. Por causa do pecado, Deus disse a Adão: "És pó, e ao pó tu hás de tornar". (Gênesis 2, 19)

Este sacramental da Igreja lembra-nos que estamos de passagem por este mundo, e que a vida de verdade, sem fim, começa depois da morte; e que, portanto, devemos viver em função disso. As cinzas humildemente nos lembram que após a morte prestaremos contas de todos os nossos atos, e de todas as graças que recebemos de Deus nesta vida, a começar da própria vida, do tempo, da saúde, dos bens, etc.

Esses quarenta dias, devem ser um tempo forte de meditação, oração, jejum, esmola ('remédios contra o pecado'). É tempo para se meditar profundamente a Bíblia, especialmente os Evangelhos, a vida dos Santos, viver um pouco de mortificação (cortar um doce, deixar a bebida, cigarro, passeios, churrascos, a TV, alguma diversão, etc.) com a intenção de fortalecer o espírito para que possa vencer as fraquezas da carne.

Na Oração da Missa de Cinzas a Igreja reza: "Concedei-nos ó Deus todo poderoso, iniciar com este dia de jejum o tempo da Quaresma para que a penitência nos fortaleça contra o espírito do Mal".

Sabemos como devemos viver, mas não temos força espiritual para isso. A mortificação fortalece o espírito. Não é a valorização do sacrifício por ele mesmo, e de maneira masoquista, mas pelo fruto de conversão e fortalecimento espiritual que ele traz; é um meio, não um fim.

Quaresma é um tempo de "rever a vida" e abandonar o pecado (orgulho, vaidade, arrogância, prepotência, ganância, pornografia, sexismo, gula, ira, inveja, preguiça, mentira, etc.). Enfim, viver o que Jesus recomendou: "Vigiai e orai, porque o espírito é forte mas a carne é fraca".

Embora este seja um tempo de oração e penitência mais profundas, não deve ser um tempo de tristeza, ao contrário, pois a alma fica mais leve e feliz. O prazer é satisfação do corpo, mas a alegria é a satisfação da alma.

Santo Agostinho dizia que "o pecador não suporta nem a si mesmo", e que "os teus pecados são a tua tristeza; deixa que a santidade seja a tua alegria". A verdadeira alegria brota no bojo da virtude, da graça; então, a Quaresma nos traz um tempo de paz, alegria e felicidade, porque chegamos mais perto de Deus.

Para isso podemos fazer uma confissão bem feita; o meio mais eficaz para se livrar do pecado. Jesus instituiu a confissão em sua primeira aparição aos discípulos, no mesmo domingo da Ressurreição (Jo 20,22) dizendo-lhes: "a quem vocês perdoarem os pecados, os pecados estarão perdoados". Não há graça maior do que ser perdoado por Deus, estar livre das misérias da alma e estar em paz com a consciência.

Jesus quis que nos confessemos com o sacerdote da Igreja, seu ministro, porque ele também é fraco e humano, e pode nos compreender, orientar e perdoar pela autoridade de Deus. Especialmente aqueles que há muito não se confessam, têm na Quaresma uma graça especial de Deus para se aproximar do confessor e entregar a Cristo nele representado, as suas misérias.

Uma prática muito salutar que a Igreja nos recomenda durante a Quaresma, uma vez por semana, é fazer o exercício da Via Sacra, na igreja, recordando e meditando a Paixão de Cristo e todo o seu sofrimento para nos salvar. Isto aumenta em nós o amor a Jesus e aos outros.

Não podemos esquecer também que a Santa Missa é a prática de piedade mais importante da fé católica, e que dela devemos participar, se possível, todos os dias da Quaresma. Na Missa estamos diante do Calvário, o mesmo e único Calvário. Sim, não é a repetição do Calvário, nem apenas a sua "lembrança", mas a sua "presentificação"; é a atualização do Sacrifício único de Jesus. A Igreja nos lembra que todas as vezes que participamos bem da Missa, "torna-se presente a nossa redenção".

Assim podemos viver bem a Quaresma e participar bem da Páscoa do Senhor, enriquecendo a nossa alma com as suas graças extraordinárias; podendo ser melhor e viver melhor.


Foto Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

MINISTÉRIO MISSÃO E CANÇÃO

"Santíssima Virgem Maria de Guadalupe,
Faz-nos mensageiros teus,
Mensageiros da Palavra e da vontade de Deus"

sábado, 10 de março de 2012

Sacramento Do Matrimônio Segundo A Igreja Católica

 
Cônego José Luiz Villac
O matrimônio é um sacramento instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo para elevar ao plano sobrenatural e santificar a união monogâmica e indissolúvel entre o homem e a mulher. Tem por finalidade a perpetuação da espécie e conveniente educação da prole, que constituem o fim primário, e o bem dos cônjuges, ou seja, a mútua santificação e a mitigação da concupiscência, que constituem o fim secundário do matrimônio.
Essa união é de ordem natural – embora sendo de Direito natural secundário, conforme veremos adiante –, estabelecida por Deus para ser observada por todos os homens que se unem em casamento, qualquer que seja sua religião, até mesmo pelos pagãos.
O sacramento do matrimônio consiste na celebração de tal união entre duas pessoas validamente batizadas, de sexo diferente, segundo os ritos prescritos pela Igreja e as exigências que Ela impõe para tornar válida essa celebração.
A Igreja não considera válido o casamento meramente civil entre duas pessoas batizadas. Segundo a moral católica, estas continuam sendo solteiras vivendo em concubinato, portanto em estado de pecado mortal.
Para que o sacramento do matrimônio seja válido, a condição mais essencial é que haja o livre consentimento e a recíproca entrega de ambas as partes. E que esse consentimento seja manifestado de forma explícita por ocasião da celebração, geralmente pela resposta em voz alta à pergunta do sacerdote, perante as testemunhas.
Portanto, não contrai validamente matrimônio quem casa sob grave coação física ou moral, por exemplo, sob ameaça de morte ou de agressão física, caso se recuse a casar, ou por medo grave proveniente de causa externa.
Também impedem ou tornam inválido o matrimônio os chamados impedimentos dirimentes, tais como a pouca idade, a impotência para a realização do ato gerador, o vínculo de matrimônio anterior, a disparidade de cultos, o recebimento anterior de ordens sagradas por uma das partes, o voto público perpétuo de castidade num instituto religioso, o rapto ou o crime de adultério ou conjungicidio para conseguir o casamento, o parentesco próximo por consangüinidade ou afinidade, ou por adoção.
Assim, vê-se que, para a validade do matrimônio, a Igreja não exige a existência do chamado amor, sentimental e romântico, entre os nubentes. O amor que deve existir em ambos é o autêntico amor de Deus, manifesto na firme decisão de observar Seus Mandamentos e as prescrições da moral católica sobre o casamento. Só assim poderão frutificar as graças inerentes ao sacramento, penhor da verdadeira harmonia e felicidade no lar.
O amor de um cônjuge pelo outro deve ser a expressão do verdadeiro amor de Deus, e não só de um amor sentimental e romântico, como acima foi observado, centrado apenas na outra pessoa, em suas reais ou supostas qualidades e atributos. Pois este tipo de amor freqüentemente é de curta duração e jamais poderia servir de base para um matrimônio estável e para a construção de um verdadeiro lar católico.
Quem se casa julgando ver nesse amor a razão de ser do matrimônio, vai querer separar-se quando perceber que aquele está se extinguindo, e desejar constituir nova união - gravemente pecaminosa - com algum novo objeto de tal amor. Ou seja, é a realização do amor livre.
Os desponsórios da Virgem (1303-1305) – Giotto, Capella Scrovegni, Pádua (Itália) Nossa Senhora e Seu castíssimo Esposo São José constituem modelo excelso de casal em toda a História
E isto a Igreja não permite de forma alguma. O vínculo matrimonial é indissolúvel, só desfeito pela morte de um dos cônjuges. Quando o convívio entre ambos torna-se impossível pela traição contumaz de um deles, pelo abandono do lar, por agressões físicas ou morais, ou por divergências temperamentais de tal monta que impeçam o prosseguimento de um convívio normal, a Igreja permite a separação física de ambos, não exigindo que continuem a habitar sob o mesmo teto.
Mas tal separação, regulamentada pelo desquite, não permite que os cônjuges separados contraiam novas uniões com outras pessoas, nem mesmo a parte inocente, pois o vínculo matrimonial continua existindo para ambos, embora vivam separados. O desquite eclesiástico ou a infame lei civil do divórcio não rompem o vínculo matrimonial.
Qualquer nova união contraída por cônjuges separados será uma união pecaminosa, uma vida em estado de pecado mortal, de ofensa permanente a Deus, que coloca em sério risco a salvação eterna da própria alma.
É interessante notar que o livre consentimento exigido pela Igreja para a validade do matrimônio, não significa necessariamente livre escolha. Ou seja, uma moça pode consentir em casar com um homem que não tenha sido escolhido por ela, mas pelos pais, para satisfazer a vontade deles. E pelo qual não sinta qualquer espécie de amor do já citado tipo, sentimental ou romântico. O casamento será perfeitamente válido. O que ela não pode é ser obrigada a casar com alguém, contra a sua vontade, sob coação ou ameaça.
Esse tipo de casamento, muitas vezes chamado de interesse, foi o mais comum até certa época, e costumava dar mais certo e ter mais estabilidade que os chamados casamentos por amor. Pois o que se tinha em vista em primeiro lugar não era a felicidade pessoal -- e sentimental -- dos cônjuges, mas a maior glória de Deus e os superiores interesses da família enquanto instituição e o bem comum da sociedade. Os noivos compreendiam tais exigências e sabiam ordenar seus sentimentos pessoais em vista de um bem superior e mais vasto.
E a Providência os recompensava largamente com um tipo de felicidade de situação muito mais sólida e durável que aquela felicidade fugaz e insegura, quando proveniente só da satisfação de sentimentos e paixões.
Por fim, apresentamos abaixo algumas considerações sobre a pergunta se um casamento realizado na igreja evangélica é reconhecido como válido pela Igreja Católica.
Na igreja evangélica luterana, em que o batismo é válido, o casamento entre os fiéis dessa confissão é reconhecido também como válido pela Igreja Católica, inclusive como sacramento, pois o contrato matrimonial entre cristãos batizados é sempre sacramento.
Em outras seitas protestantes, em que o batismo não é válido, não há sacramento, embora a Igreja Católica possa reconhecer como válido o casamento, exclusivamente com base na lei natural, como reconhece o casamento entre os pagãos, ou seja, os não batizados.
As exigências da unidade e da indissolubilidade são necessárias para qualquer espécie de casamento, mesmo naquele em que não haja sacramento, pois são de Direito natural, embora secundário.
Diz-se que algo é de Direito natural secundário, quando não foi diretamente introduzido pela própria natureza, mas pela inteligência dos homens, para a utilidade da vida humana (cfr. Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica Iª IIª, q. 94, a. 5, ad tertium).
Assim, a unidade e a indissolubilidade matrimoniais não foram diretamente introduzidas pela própria natureza, mas sim por uma consideração racional do homem, tendo em vista a utilidade da vida humana. E, sobretudo, foram confirmadas pelo direito divino na Nova Lei.
Com efeito, só o casamento de tipo monogâmico e indissolúvel torna as relações entre os cônjuges harmônicas e a instituição familiar robustecida. É o casamento católico!



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sexta-feira, 2 de março de 2012

Os Carismas Na Igreja Católica (Dons Carismáticos)

Foto: http://blog.cancaonova.com/

Atualmente costuma-se separar, aqueles que são e os que não são carismáticos. Entretanto, esta separação não existe de fato, pois toda igreja é carismática, visto que ela é originalmente desde as suas origens, a começar pelo seu fundador, Jesus Cristo. Portanto, a expressão “carismático”, tem dois sentidos: aqueles que usam os dons carismáticos sobrenaturais e aqueles que são, por lhes serem próprios, uma vez que a igreja toda é carismática.
Neste contexto dividimos os dons em: ordinários e os extraordinários, os ordinários são os de natureza comum, como por exemplo, o dom musical, aquele que tem facilidade no relacionamento com a música; e os extraordinários são aqueles citados em 1 Co 12.8-10 – (1) Palavra da Sabedoria; (2) Palavra do Conhecimento; (3) Fé; (4) Curas; (5) Operação de milagres; (6) Profecia; (7) Discernimento de espíritos; (8) Variedade de línguas; (9) interpretação de línguas, portanto sobrenatural, concedidos por Deus através do Espírito Santo. Teologicamente, definiremos dom partindo de sua origem que se encontra no grego charisma, que significa “donativo de caráter imaterial, dado de graça”, portanto, os dons são capacidades sobrenaturais concedidas pelo Espírito Santo com o propósito de edificar a Igreja, visto que os dons são dados à igreja para a sua própria edificação (1Co 14.12), levando-a a manter e a desenvolver sua unidade no corpo de Cristo (Ef 4.4-6).
No Livro dos Atos dos Apóstolos e pelos escritos biográficos e reflexivos de tantos Padres da Igreja dos séculos I ao VII, vemos que os carismas eram comuns no início da Igreja. Muitos santos da igreja, a partir do século IV, já acreditavam que os dons carismáticos sobrenaturais foram necessários apenas para a difusão no início da igreja e já não eram mais necessários. Pode ser que era da vontade de Deus que os dons carismáticos “se apagassem” por um período da história (de maneira comum), porém na virada do século XIX para o XX, temos a certeza que o Senhor começa a preparar novamente o coração da humanidade para “uma nova brisa”, com a publicação da carta encíclica Divinum Illud Munus de Leão XIII. Começa a surgir uma renovação e não uma inovação como muitos pensam. O movimento de renovação carismática não traz, portanto, a novidade dos carismas, mas como seu próprio nome sugere, veio renovar esta realidade carismática que se encontrava “adormecida”, mas nunca apagada no seio da Mãe Igreja.
Portanto, os Grupos de Oração ou qualquer expressão carismática têm a responsabilidade de evangelizar carismaticamente, ou seja, com o uso dos dons sobrenaturais de serviço para a edificação da igreja de Cristo, uma vez que os carismas devem nos conduzir sempre a Jesus, centro e Senhor de nossas vidas. Dessa forma, os carismas não giram em torno de si mesmos, ou daqueles que o usam, mas sim esta sempre a favor dos outros, para auxiliá-los no encontro pessoal com Jesus.
São Paulo nos ensina acerca de nove carismas na I Carta aos Coríntios nos Capítulos de 12 a 14. No entanto, a Igreja reconhece, hoje, mais de trezentos outros carismas que, igualmente, ordenam-se à edificação do Reino de Deus e à missão evangelizadora no mundo. Aqui, vamos refletir acerca dos nove Dons Carismáticos elencados pelo Apóstolo Paulo (cf. I Cor. 12, 7-11) e que são os mais utilizados nas denominações carismáticas. Para fins didáticos, podem ser divididos em Dons de Revelação, de Inspiração e de Poder.